domingo, 21 de fevereiro de 2010

Sobre pupila, retina, visão e a falta dela...


Calor, tensão, escuridão, dor involuntária a mover o que deveria ser indolor, preces e nada mais...

Minhas pálpebras se abriram em meio a um turbilhão de pensamentos psicopatas e teorias de conspiração inexistentes, mas só enxerguei escuridão. Minha pupila, ferida por sentimentos piegas, não captava mais nenhum espectro de luz visível e minha retina havia se tornado, até então, um órgão completamente dispensável.

Nesse momento, de extrema dor existencial, questionei-me: A cegueira é opcional e inconsciente ou a dor que invadiu os pulmões, na hora da tua partida, arrancou de mim o direito de enxergar e respirar as coisas boas do universo?
A resposta nunca obtive e também não sei se alguma forma humana viva há de haver, mas, pra ser bem sincero, isso não dará outro rumo aos meus passos e sentimentos. O que quero deixar claro, com esse aglomerado de palavras, é o fato de ficarmos completamente cegos no momento em que cai de nossas mãos a felicidade do haver.

Eu, ao acordar, já não acendo mais as luzes. Estou cego há muitas estações. Já não vejo o sol nascer, muito menos sou contemplado com a alegria triste do pôr-do-mesmo. Já não vejo o orvalho tocar as gramíneas, que a mão santa da natureza plantou por todos os lugares em que meus sapatos estiveram presentes. Estou cego, mas não perdi a percepção do meu mundo... Aquele que já não existe no seu.

Juntamente à visão, e ao contrário do que sempre escutei nas salas de aula da vida, todos os meus outros sentidos se enfraqueceram quando percebi não haver mais tua razão para me guiar.
Meus olhos nunca mais puderam tocar a perfeição dos traços de sua alma e forma. Meu olfato já não escutará teu suave perfume por entre os outros milhões de odores, insignificantes, que por mim passaram. Minhas mãos, agora vazias, nunca mais enxergaram o quanto macia era a pele que envolvia o teu sentir. Pobre eram os meus ouvidos... Nunca mais detectaram tua doce voz de jasmim a se comunicar com meu coração. Ah, o paladar dos beijos teus...

Tudo se transformou em confusão e vazio, preenchido com a cor mais negra e absoluta existente.

Julgava que meus órgãos oculares de nada mais serviam. Pensava que eram acessórios para enfeitar a minha imagem diante do grande universo e não afastar pares de olhos que de mim se aproximavam. Fui enganado pelo ego de minha vã sabedoria e, nessa fração de existência, também fui surpreendido. Tudo aquilo que para mim era dispensável, por já não mais absorver a luz mundana, mostrou-se eficiente ao sentir da consciência, que já não te localizava em meus tatos. Meu aparelho visionário funcionou, mesmo sem nada enxergar... Pude sentir, como o vento que tocava os teus fios de cabelos nas tardes de verão, uma lágrima em minha pálpebra superior nascer e percorrer suavemente pela minha pele onde existe um vale; por onde toda lágrima que levava o teu nome, um dia, já passou.

Triste é a escuridão, triste é a inexistência do teu existir em minha retina.
Junto ao te perder, perdi a percepção do mundo, perdi minha alma... De que me adiantaria ver um mundo sem você? De que me adiantaria caminhar e ver todas as coisas mágicas do mundo sem poder ver tua imagem diante delas?

Eu não acendo mais as luzes... Aprendi a enxergar e me guiar dentro da escuridão. Eu não acendo mais as luzes, com a esperança que sua imagem se perca na bruma do esquecimento...




Tranquei os olhos!


A!

6 comentários:

  1. Na imagem: Sir Isaac Newton.
    Fundamental para que essa postagem fosse escrita.

    Agradeço a todos que passam aqui, obrigado!

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  2. Os olhos custam em ficar abertos. As pálpebras caem porque já sentem o peso da tua ausência. Ausência muda e fria que resseca a retina, deixando-me cega; incapaz, portanto, de enxergar um outro alguém.



    Malabarista, tu és o poeta que escohi para resolver meus disturbios mentais. És a pessoa que encontrei para fazer-me sentir, na mais superficial das hipóteses, mais completa. Quanto mais fujo de ti, mas me perco em teu caminho.

    sem mais

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  3. os olhos são muito necessários, mas para algumas coisas, podemos perceber sem eles mesmo... as coisas importantes, sentimos!

    gostei daqui!
    beijos.

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  4. Os olhos são essenciais para muitas coisas, mais para outras basta apenas sentir!

    Gostei! belo texto!

    Beijão!

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  5. Você é encanto, menino...

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