quinta-feira, 1 de março de 2012

Sobre a calma.
















Calma, calmaria.

Não me iludo. Pode soar meio babaca, mas eu acho que já aprendi o suficiente. Quer saber?
O caos anda sempre em silêncio, sorrateiro e quieto.

Eu sempre fui assim, calmo e sereno aos olhos externos, enquanto um turbilhão de “sabe-se lá o que” insistia em destruir tudo que existia dentro de mim.

Cresci e vesti minhas máscaras, sorri enquanto engolia o choro. Atravessei alguns finais... Poucos, é verdade, mas mais do que gostaria de ter enfrentado.

Hoje estou aqui, sem resposta alguma e com algumas perguntas a mais. Quer saber?
Aprendi o suficiente. Não existem respostas e as perguntas são apenas ilusórias.

Hoje sou letra, prosa e verso. Hoje estou livre e sigo a direção dos ventos. Hoje não me caibo, escorro, desço pelo ralo... Calmo.



A! (de Atmosfera!)

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Sobre o infinito em um piscar de olhos...













Qual é a distância entre viver e existir? Qual a fronteira entre o “estar” e o “há por vir”? Fechar os olhos é apenas uma maneira sutil de enxergar.

O infinito se faz presente em nós e o que do corpo aflora acaba por limitar o que somos aos olhos alheios. O mundo gira e lapida em nós a sua arte, mostrando o quanto é impossível permanecer imune à natureza externa.

Ouço o meu silêncio, recolho os retalhos da vida que me restou. Na outra face da mesma porta, sinto o mundo a se contorcer. Fecho as minhas janelas e acendo as luzes para que o escuro enfim adormeça. O nosso tempo se esvai e eu continuo tentando ignorar o soar silencioso da vida que agoniza entre as estações.

Inalo a poeira que se esconde pelos cantos, pedacinhos de vida morta, restos do tempo carcomido, enquanto observo os insetos em volta da lâmpada, tão aquém de todo esse pesar, buscando apenas uma maneira de se iluminar, mas são só insetos... Não sabem de nada

Aprecio e, ao mesmo tempo em que os invejo, me orgulho e sinto, sinto muito.
Então abro os olhos, sorrio e sigo. Já não sei de nada, mas, pra mim, está tudo bem...



A!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Sobre o tudo e nada mais...


É só saudade, aquele frio invisível que se faz no deserto do seu não estar, que não acomete os termômetros e que, às vezes, imagino tocar.

É só saudade, mas talvez seja amor em doses homeopáticas, certeza e noventa por cento daquela felicidade que nos preenche ao conhecer o real significado do verbo "to be".

Devo confessar...

Não sei mais conjugar verbo algum na primeira pessoa do singular. Não sei e nem quero mais me olhar refletido em alguma superfície e não enxergar a tua silhueta, como n’um quebra-cabeça, completando a minha. Deveria doer, principalmente pr’um sujeito egoísta e que sempre gostou daquele lance meio “carente profissional”, meio James Dean, que, n’uma matemática simbiótica contraditória, sou.

Pois digo...

Deveria e dói, mas no fundo a vida é mesmo isso. A dor de um parto celebra a nossa chegada e alguma dor qualquer, grande ou intacta em nós, nos toca antes de nos levar.

Sabe... É só saudade, certeza, amor em doses homeopáticas, minhas enormes dúvidas, manias e contradições, e você, com seu jeitinho bonito e inocente de acreditar e insistir que a vida é realmente bela. Mas e aí, se tudo é questão de ângulo e estado de espírito, quem ousaria dizer que não?

Talvez seja só saudade, mas, com toda certeza, é um pouco de saudade e noventa por cento daquela felicidade que, se fosse sólida, preencheria cada célula formadora do meu corpo com tuas mensagens subliminares.

É saudade, certeza, teu ser no meu estar. Bem assim... Dois em um, você e eu, um amor céu e inferno: entre nós há vida, nada mais, nada menos.




A!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Sobre a sobrevida de um equilibrista...











Só pode ser um erro do universo, o sentir.

Acabamos por enxergar tudo que não existe na percepção fria de um par de olhos e que a verdade do toque das mãos nunca será capaz de entender. Ele está ali, na corda bamba da existência, continuamente indeciso, se equilibrando ou não, mas sempre enlaçado a uma certeza.

Vejo o tempo, seja na face dos que envelhecem ou nas milhares formas que o homem inventou para o medir, imprecisamente. Confio mesmo é no estado atmosférico das rugas e das marcas de expressão. Só elas traduzem a dor dos que ousaram viver a inconstância do sentir. O tempo é assassino e o faz aquietar. Pode ser que seja junto, pode ser que não, porém será sempre conosco, mesmo que em lugares diferentes do tempo.
Se hoje visto e trago um sorriso sincero recheado de paz, é por que sei e aceitei que o tempo é fiel e um dia me levará de carona.

Apesar das mãos dadas a certeza de um homicídio e da breviedade com a qual insiste em flertar, o sentir é e será eternamente eterno, mas para a compreenção desse fato é necessária uma certa sensibilidade e um pouco de bom senso para entender que eternidade não é questão de tempo.

Como disse, se equilibrando ou não, sempre há uma certeza: todo equilibrista um dia cai.


E é assim, equilibrado na certeza da queda, que espero atento pela minha carona.





A! (de Abismo!)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Relato sobre a metamorfose do "eu e tu"...



Com as mãos repletas de ausência e um músculo, que já não funcionava por vontade própria, caminhei, sem saber, em sua direção. Um sorriso tímido e dois olhos castanhos foi tudo o que pude notar antes de um inocente "olá" que mudaria minha vida.

Não acreditei...

Tentei respirar meus dias como os anteriores, mas não obtive sucesso. Nada havia ocorrido, meus passos continuavam solitários, mas era como se houvesse.

Sete folhas de um calendário foram ao chão para que eu pudesse, enfim, sair dele. Palpitações de angústia se fundiram ao meu sentir e, quando pude perceber, lá estava eu novamente... Frente a frente com toda a incerteza com a qual o teu silêncio havia me presenteado, perdido em meio aos milhões de desejos que teu existir exalou no meu querer. Estávamos lá: eu, você e apenas o restante de um mundo. Desejei mais um daqueles abraços que elevavam a dose de serotonina circulante e davam a certeza de existir um lugar só meu na imensidão daqueles braços miúdos. Braços abertos, corpos unidos como polos opostos de um imã, algumas palavras sussurradas ao pé do ouvido. Assim, em um toque eterno de curta duração, fez-se a primeira volta de um laço.

Mais folhas de um calendário ousaram ir ao chão e a cada milésimo de queda mais alto era o meu vôo. O silêncio, que musicava o espaço de tempo entre um ato e outro, deu lugar a um turbilhão de sentimentos que penetrou por entre as células. A incerteza monocromática foi abduzida, sem deixar indícios de que um dia estivera ali, e em seu lugar posicionou-se pinceladas sublimes em tons de vida. Em meio a todas as alterações fisiológicas e sentimentais, você veio... Suprema, no andar desajeitado mais correto que já presenciei e pôs-se frente aos meus sentidos perturbados. Fitei-te com o olhar e na simplicidade profunda dos teus olhos pude notar um sorriso desconhecido fazendo moradia centímetros abaixo das minhas narinas. Testemunha muda, daquelas que revelam o obscuro sem a ousadia do proferir. Meu mundo estava todo ali, traduzido em trinta e dois dentes estampados e bem aparentes para que você pudesse entender.

O tempo não parou, muito menos minha vontade de você.

Quis-te e dei-me, quis-me e deu-se... Na perfeição certa do teu existir, fez-se a segunda volta de um laço, porém, ainda assim, insuficiente para fixar a fita invisível que uniria o presente ao futuro. Havia me esquecido de um único detalhe, justamente aquele que faria toda a diferença: por mais que seja belo e dono de um segredo incalculável, laço sem nó não faz eternidade.

Silenciei-me e me desesperei, esquecendo que diante de mim estava o mais surpreendente respirar.

Você, sem ter conhecimento algum sobre tais fatos, contou-me despretensiosamente seus segredos de liquidificador. Segundos existiram e, com o peito inundado em certezas, senti teu corpo e o meu se unindo feito fita em duas voltas repletas de magia e desejo, traduzidos pelo meu “tu” e pelo teu “eu” que entrelaçados deram início a criação de um emaranhado de nós cegos. Nó no plural, eu e você, nós... Sem intenção alguma e na naturalidade do acaso, nossos laços foram presenteados com amarras firmes, dando toda a elegância para a união perfeita de um presente-futuro casto e sem interrupções.

Duas fitas, um encontro, duas voltas, um laço... Enfim, nós para nós, nós para nossos laços eternos.

Somente as portas foram testemunhas... "Eu e tu", uma metamorfose.





A! (de Óbvio!)

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Sobre ti, sobre mim... Sobra nós.














Quando eu te vi, conheci teu ser.
Quando conversei, conheci você.
Quando percebi, conheci o sentir.
Quando desejei, conheci a mim.

Conheci a mim, quando te avistei.
Conheci o sentir, quando conversei.
Conheci você, quando percebi.
Conheci teu ser, quando desejei.

Compreende?

De você, quero você.
De mim, quero querer.
De nós, quero o amor.

Quero o amor, que é teu.
Quero o querer, que é nosso.
Quero você, pra mim.

Tive medo de um dia não mais te desejar, mas isso foi até conhecer o nosso "nós".
Não sei se já te amo, mas eu amo o que é nosso. Amo nós, com amor. Com amor, quero nós, de nós.


A!

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Sobre pupila, retina, visão e a falta dela...


Calor, tensão, escuridão, dor involuntária a mover o que deveria ser indolor, preces e nada mais...

Minhas pálpebras se abriram em meio a um turbilhão de pensamentos psicopatas e teorias de conspiração inexistentes, mas só enxerguei escuridão. Minha pupila, ferida por sentimentos piegas, não captava mais nenhum espectro de luz visível e minha retina havia se tornado, até então, um órgão completamente dispensável.

Nesse momento, de extrema dor existencial, questionei-me: A cegueira é opcional e inconsciente ou a dor que invadiu os pulmões, na hora da tua partida, arrancou de mim o direito de enxergar e respirar as coisas boas do universo?
A resposta nunca obtive e também não sei se alguma forma humana viva há de haver, mas, pra ser bem sincero, isso não dará outro rumo aos meus passos e sentimentos. O que quero deixar claro, com esse aglomerado de palavras, é o fato de ficarmos completamente cegos no momento em que cai de nossas mãos a felicidade do haver.

Eu, ao acordar, já não acendo mais as luzes. Estou cego há muitas estações. Já não vejo o sol nascer, muito menos sou contemplado com a alegria triste do pôr-do-mesmo. Já não vejo o orvalho tocar as gramíneas, que a mão santa da natureza plantou por todos os lugares em que meus sapatos estiveram presentes. Estou cego, mas não perdi a percepção do meu mundo... Aquele que já não existe no seu.

Juntamente à visão, e ao contrário do que sempre escutei nas salas de aula da vida, todos os meus outros sentidos se enfraqueceram quando percebi não haver mais tua razão para me guiar.
Meus olhos nunca mais puderam tocar a perfeição dos traços de sua alma e forma. Meu olfato já não escutará teu suave perfume por entre os outros milhões de odores, insignificantes, que por mim passaram. Minhas mãos, agora vazias, nunca mais enxergaram o quanto macia era a pele que envolvia o teu sentir. Pobre eram os meus ouvidos... Nunca mais detectaram tua doce voz de jasmim a se comunicar com meu coração. Ah, o paladar dos beijos teus...

Tudo se transformou em confusão e vazio, preenchido com a cor mais negra e absoluta existente.

Julgava que meus órgãos oculares de nada mais serviam. Pensava que eram acessórios para enfeitar a minha imagem diante do grande universo e não afastar pares de olhos que de mim se aproximavam. Fui enganado pelo ego de minha vã sabedoria e, nessa fração de existência, também fui surpreendido. Tudo aquilo que para mim era dispensável, por já não mais absorver a luz mundana, mostrou-se eficiente ao sentir da consciência, que já não te localizava em meus tatos. Meu aparelho visionário funcionou, mesmo sem nada enxergar... Pude sentir, como o vento que tocava os teus fios de cabelos nas tardes de verão, uma lágrima em minha pálpebra superior nascer e percorrer suavemente pela minha pele onde existe um vale; por onde toda lágrima que levava o teu nome, um dia, já passou.

Triste é a escuridão, triste é a inexistência do teu existir em minha retina.
Junto ao te perder, perdi a percepção do mundo, perdi minha alma... De que me adiantaria ver um mundo sem você? De que me adiantaria caminhar e ver todas as coisas mágicas do mundo sem poder ver tua imagem diante delas?

Eu não acendo mais as luzes... Aprendi a enxergar e me guiar dentro da escuridão. Eu não acendo mais as luzes, com a esperança que sua imagem se perca na bruma do esquecimento...




Tranquei os olhos!


A!